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Foto do escritorPortal Blanco

Sinais de um clube disfuncional




A inatividade do Real Madrid no mercado de inverno, que se encerra nesta terça-feira, tem sido fonte de debate e frustração entre madridistas nas redes sociais.


Mais uma janela de transferências está acabando e o Real Madrid segue firme em seu extremismo na política de contratações. 'Trazer o melhor talento jovem do mundo ou nada' tem sido o 'mantra' da direção esportiva desde alguns anos atrás.


Entre as dificuldades econômicas do período pandêmico, as sequelas das ruinosas operações de Eden Hazard e Luka Jović e um mercado cada vez mais inflacionado, o Madrid tem optado por competir com o que tem. De preferência, gastando (muito) pouco.


O último exemplo da inoperância da direção esportiva é o 'desinteresse' por João Cancelo. A surpreendente transferência do lateral para o Bayern de Munique no último dia da janela, em função das sucessivas discussões e desentendimentos com Pep Guardiola, tem dado o que falar no madridismo.



Peça fundamental no sucesso do Manchester City nos últimos anos, João Cancelo destaca-se por sua versatilidade para atuar em ambas laterais, bem como algumas posições do meio-campo e ataque. Nas últimas três temporadas disputou 47 jogos como lateral-direito e 68 como lateral-esquerdo, contribuindo com 8 gols e 21 assistências, e afirmando-se como um dos melhores da posição.


No mesmo período, Carvajal e Mendy contribuíram com, respectivamente, 1 gol e 11 assistências, e 4 gols e 6 assistências.


As laterais do Real Madrid têm sido o 'elo fraco' da equipe nas últimas temporadas em função da falta de continuidade física dos titulares, a vulnerabilidade defensiva e a falta de contundência e apoio à criação na fase ofensiva (quantas vezes vemos Vini Jr, Rodrygo ou Valverde completamente sozinhos nas pontas?). Ainda assim, a direção esportiva do clube não parece empenhada em procurar soluções para o problema.


Nesse momento com Mendy, Vázquez e Carvajal lesionados (ausências de 2 meses, 1 mês e em fase final de recuperação, respectivamente) e com um calendário que promete jogos a cada três dias pelos próximos meses, a inoperância do clube no mercado se tornou negligência.



Pela versatilidade e perfil ofensivo, inexistente no elenco atual, bem como a situação contratual - empréstimo de seis meses implica em uma operação de risco zero -, tentar a contratação de João Cancelo parecia o mínimo a ser feito.


Fran García, operação de 5M que o Real Madrid está disposto a assumir, seria uma solução de curto e médio prazo. Com a confirmação da lesão de Mendy, o clube poderia adiantar o retorno do espanhol, mas inexplicavelmente opta por deixá-lo no Rayo Vallecano até o final de temporada.


Se é certo que o Madrid pagará sua cláusula, não trazê-lo imediatamente é, novamente, uma atitude negligente muito difícil de compreender. O clube permanecerá os próximos dois meses sem um lateral-esquerdo de ofício, com Nacho, Alaba e Camavinga improvisados. E Mendy, mesmo recuperado, tem sido um risco para a equipe nesta temporada.


Além das laterais, a gestão esportiva do ataque é grotesca. Ancelotti conta com quatro jogadores utilizáveis - Vini Jr, Rodrygo, Benzema e Asensio - para três posições. Hazard e Mariano não contam para o treinador por motivos óbvios, e o clube se recusa a explorar alternativas no mercado.


Rodrygo e Camavinga, mesmo demonstrando constantemente que merecem sequência como titulares, estão fadados ao banco de reservas por serem as únicas opções capazes de mudar a dinâmica da equipe no segundo tempo.


Com a falta de recursos, também observamos Valverde sendo deslocado para a ponta-direita e Camavinga para a lateral-esquerda, onde podem desempenhar à altura porque são grandíssimos jogadores, mas têm seu potencial desperdiçado.


O Real Madrid, tão preocupado em garantir o futuro do clube com a contratação dos melhores jovens (como deve ser), acaba dando um tiro no próprio pé quando estes são obrigados a ficar no banco, estancando seu desenvolvimento, ou jogar fora de posição pela falta de recursos no elenco.


Esta falta também impossibilita a rotação e descanso de titulares - Benzema de 35 anos com alguns problemas físicos e Vinícius Jr, participando de todos os minutos de jogos disputados a cada 3 dias, com prorrogações, viagens longas, etc, naturalmente prejudicando o desempenho em campo.


Este mercado de janeiro voltou a deixar em evidência a inoperância e extremismo que o Real Madrid estabeleceu na política de transferências. A passividade na hora de dar saída a jogadores que não contam (Mariano, Hazard, Odriozola, Vallejo, etc) e a rigidez do clube para reforçar posições extremamente carentes não condizem com o planejamento de um clube da elite.


Entre a contratação de 'galácticos' e os jovens mais talentosos do mundo, a direção esportiva parece ter esquecido que existe um meio-termo, isto é, jogadores para compor elenco, dar profundidade à equipe, descansar alguns titulares ocasionalmente, competir pela titularidade...


Enquanto o Madrid economiza com a justificativa de ir atrás de jogadores como Haaland, Mbappé (mesmo após o fiasco) e Bellingham - e tudo indica que nenhum deles vestirá de branco proximamente -, o elenco vai se deteriorando ano após ano. Eventualmente, como sabemos, a responsabilidade cairá sobre os ombros da comissão técnica que pouco pode fazer.

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